quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

UM BOM NATAL E UM FELIZ 2006 PARA TODOS

Quando eu era criança, no dia de Natal, comentava com os outros meninos e meninas de Negrelos as prendas que na noite anterior o Menino Jesus nos havia colocado no sapatinho. O que achava estranho era que Jesus desse melhores prendas aos mais ricos e piores aos mais pobres. Algo estava errado, pois contradizia tudo o que aprendia na catequese.
Ainda criança, quando soube que o Pai Natal era uma invenção comercial, quase sempre alheia ao verdadeiro espírito natalício, e que não era o Menino Jesus que colocava as prendas nos sapatinhos, percebi tudo. Coitado de Jesus, que era visto como injusto relativamente aos pobres! Logo Ele, que viveu e morreu pregado numa cruz para resgatar os pecados da humanidade, mas também pela Justiça que hoje apelidamos de social, simultaneamente humana e divina!

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Há uma melodia de Natal que diz "nesta noite de Natal/há em todos os países/muitos milhões de meninos felizes".
Tal parte da canção diz apenas meia verdade. De facto, há muitos milhões de meninos e meninas felizes em todo o planeta. Em Negrelos, as crianças actuais têm uma vida melhor e acesso a brinquedos que não teve a minha geração, já para não falar das gerações dos nossos pais e avós, quando muitas crianças iam para a escola (as que iam) descalças, no Inverno, chegando ao ponto de urinar em buracos para depois aí aquecerem os pés. Era a outra face da moeda do país das barras de ouro, que não devia nada a ninguém. E ainda há quem (algumas vozes isoladas) diga que deveria voltar outro Salazar. Se passassem por situações dessas, dividissem, nas refeições comidas nas suas casas, uma sardinha por quatro pessoas, não tivessem água canalizada ou luz eléctrica nas suas residências, nem acessos por estradas às suas terras, vissem apenas os ricos e pouca gente da classe média ir além da instrução primária, como se dizia na altura, será que também assim pensariam? Bem, num país livre e democrático, não só os inimigos da liberdade têm direito à palavra, como a ignorância e o obscurantismo também são livres. Até nisso os que acreditam na liberdade, na democracia e nos direitos humanos mostram a sua superioridade moral.
Voltando à canção natalícia em causa. Também há em todo o mundo muitos milhões de crianças famintas, espancadas, doentes e vítimas de psicopatas pedófilos. Essas não vivem felizes.
Comemorar o Natal não é só trocar presentes entre familiares e amigos, ir à missa ou rezar umas orações, embora tal seja importante para os cristãos, mas também preocupar-se com aquelas crianças e os adultos que igualmente passam fome, estão presos, doentes, não têm emprego ou uma habitação condigna. É nesse sentido, aliás, que têm alertado todos os anos as mensagens natalícias dos papas, cardeais, bispos, sacerdotes e responsáveis por outras religiões cristãs.
O combate às situações degradantes da condição humana atrás mencionadas é responsabilidade dos que acreditam em Cristo, mas também dos políticos (crentes ou não) e da sociedade civil.
Quando a globalização se impõe, não deixando outra alternativa mais eficaz, e o capitalismo, enquanto sistema económico, se tornou vencedor, o grande desafio que se lhes coloca é o seguinte: vão diminuir ou agravar as desigualdades sociais entre os povos e dentro de cada país? Vão, como dizia o "pai" do liberalismo económico, Adam Smith, criar uma rede social abaixo da qual ninguém caia, assegurando a interligação entre a globalização económica e a globalização social defendida por João PauloII?
Nesta época e nos restantes dias do ano, reflitamos sobre estas realidades e procuremos a construção de um mundo mais justo.
A todos um Bom Natal e um Feliz 2006.

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