domingo, 4 de dezembro de 2005

FALECEU UMA DAS MAIORES GLÓRIAS DE SEMPRE DO FUTEBOL MUNDIAL


George Best foi uma das maiores glórias de todos os tempos do futebol mundial. Na minha infância e já na adolescência, foi um dos meus ídolos do desporto-rei. Aliás, foi uma referência para a minha geração.
Mais que um génio, ele era um mágico do futebol. Os seus dribles, que punham a cabeça "em água" a qualquer defesa, a colocação certeira de bola, os remates e os golos (muitos) que apontou, tornaram-no, a par de Pelé, Eusébio, Muller, Bekenbauer, Bobby Charlton, Garrincha, Gordon Banks, Yashin, e tantos outros, numa lenda do futebol dos anos 60 e princípios de 70.
A mais triste recordação que dele tenho data de Maio de 1968 (nada tem a ver com a revolta francesa do mesmo ano) quando, ao serviço do Manchester United, foi o carrasco do meu clube, o Benfica, na final da Taça dos Campeões Europeus, em Wembley. A partida terminou com um empate (1-1). No prolongamento, o Manchester marcaria mais 3 golos sem resposta. Best foi fundamental na obtenção do resultado.
George Best nasceu, há 59 anos, num bairro pobre de Belfast, capital da Irlanda do Norte - viviam-se os tempos duros do pós-guerra. Bem jovem, começou a trabalhar como tipógrafo. No entanto, revelaria arte para o futebol, tendo sido contratado para o Manchester United com apenas 14 anos, onde fez a maior parte da sua carreira.
Já naquele tempo ganhou muito dinheiro, que esbanjaria com mulheres, álcool e carros, como o próprio afirmou. Aos 27 ou 28 anos, a sua carreira estava praticamente terminada, devido a problemas com o alcoolismo e indisciplina que levaram ao seu afastamento do Manchester. Posteriormente, jogou em diversos clubes, mas não voltou a ser o mesmo a quem chamaram o quinto Beatle.
Abandonada a carreira futebolística, continuou para pior o mesmo tipo de vida, tendo passado por dificuldades financeiras, morrendo, recentemente, em consequência de graves problemas no fígado que, alías, tinha sido transplantado há alguns anos.
Best foi criado pobre, enriqueceu quando chegou ao estrelato e acabou mal. Não foi caso único no futebol. O mesmo aconteceu com o brasileiro Garrincha, o argentino Maradona, os nossos Vitor Batista e Yaúca, e quase aconteceu com o alemão Muller, não fosse o seu colega e amigo de sempre, Beckenbauer, ter-lhe "deitado a mão" quando era presidente do Bayern de Munique, arranjando-lhe um emprego no estádio do clube.
Os clubes onde passam estes craques não terão algumas culpas no cartório? Quando os vêem destruir quanto ganham, não os orientam para o futuro pós-carreira? Ou tal não constitui preocupação sua, pois quando já não derem lucro deixam-se cair?
O funeral de George Best teve justas honras de Estado, sendo acompanhado por cerca de meio milhão de pessoas, entre as quais se contaram inúmeros ex-colegas e ex-adversários seus.
Num tempo em que o futebol se está a tornar uma negociata muitas vezes obscura, em que alguns dos seus dirigentes não são as pessoas mais recomendáveis, acabando, por vezes, como arguidos em processos crime e mesmo na cadeia, em que há fundadas suspeitas de este desporto também estar a ser utilizado para lavagem de dinheiro proveniente do mundo do crime, saudamos aquele que chegou também a ser apelidado de "Mozart da bola", o qual nos marcou com a sua arte e via o futebol como uma actividade decente, respeitando e sendo respeitado pelos adversários, o que se pode constatar pelas palavras proferidas por Eusébio ou Simões aquando do seu passamento.

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