terça-feira, 5 de abril de 2005

MORREU O PAPA DA PAZ, DA JUSTIÇA E DA LIBERDADE

João Paulo II foi um Papa obviamente preocupado com as questões relativas à fé, mas também com a paz, a justiça e a liberdade. Foi, sem margem para dúvidas, um fiel seguidor de Cristo, pois o cristianismo é uma doutrina simultaneamente divina e humana.
Viveu na sua Polónia sob o jugo dos dois maiores totalitarismos do séc. XX: o nazismo e o comunismo. Daí, o seu amor pela liberdade, a democracia e os direitos humanos.
Denunciou as ditaduras comunistas. A sua primeira viagem à Polónia, após ser escolhido Papa, o sucesso que obteve junto dos operários que sairam à rua, não de punho erguido, a cantar a "Internacional", mas com crucifixos, rezando; a criação, pouco depois, do "Solidariedade"e as greves organizadas por este sindicato, marcaram o princípio do fim do comunismo.
Não será exagerado dizer que tais acontecimentos abriram o caminho à glasnost e à perestroika, de Gorbatchov, à queda do muro de Berlim, à revolução de veludo checa e demais acontecimentos que levaram à queda de uma ideologia idealista e utópica, pela qual foram presos, torturados e mortos muitos milhares de operários, camponeses, intelectuais e estudantes, em todo o planeta, mas que, além de um fracasso, transformou num inferno totalitário a vida de todos os povos que subjugou.
João Paulo II denunciou também as ditaduras de sinal oposto. Sempre que visitou países sujeitos a regimes de direita reaccionária, especialmente na América Latina, alertou para a necessidade de liberdade, justiça e respeito pelos direitos fundamentais. Logo, de seguida, tais ditaduras abriram brechas e acabaram, felizmente, por sucumbir.
Que o Homem estivesse no centro de toda a actividade, especialmente nos locais de trabalho, foi uma preocupação do Papa agora falecido. Daí, a sua condenação do capitalismo selvagem e a sua afirmação de que o comunismo, apesar de globalmente mau, teve um aspecto importante: obrigar o capitalismo a democratizar-se e a respeitar os trabalhadores. Mostrou-se também preocupado por haver certas multinacionais a mandar mais que alguns governos ou mesmo a mandar nesses governos. Houve quem dissesse que, neste aspecto, João Paulo II se aproximou do socialismo democrático.
Antes de mais, a doutrina cristã não tem como finalidade apoiar esta ou aquela ideologia, embora rejeite ideologias assentes no ódio e na violência, como o marxismo-leninismo, o fascismo, ou o nazismo.
A doutrina cristã aponta caminhos éticos que poderão e em nosso entender deverão servir de referência para a actividade política e social, especialmente dos cristãos, e entre estes os que se encontram em posições de poder.
Daquelas preocupações comunga o agnóstico e liberal Mário Vargas Llosa, o mesmo que afirma preferir o capitalismo selvagem governos de partidos da Internacional Socialista...
João Paulo II foi vítima de duas tentativas de assassinato: a primeira por um turco, em Roma, e a segunda, no nosso país, em Fátima, por um padre integrista.
O turco era um activista de extrema-direita. No entanto, o tempo provou terem estado por detrás do atentado os serviços secretos búlgaros. Mais recentemente, documentos encontrados nos arquivos da Stasi - a antiga PIDE da RDA - demonstram terem os próprios serviços secretos soviéticos participado na operação.
Com a ajuda da mão de Deus ou não, o Papa viveu ainda por muitos e bons anos, enquanto aqueles que o quiseram liquidar fisicamente, como diria o seu mestre, Lenine, estão no caixote do lixo da História.
Que o Papa descanse na paz de Deus são os desejos de todos os católicos. A melhor homenagem que lhe poderão prestar será continuar a sua obra, seguindo os seus ensinamentos e o seu exemplo de dedicação .

Manuel Silva

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