segunda-feira, 25 de abril de 2005

Aldeia da Pena

Para muitos seria impensável viver num sítio como aquele. Escondidos entre montes e quase inacessíveis vivem os 11 habitantes da Aldeia da Pena, na Serra de São Macário.
Quando se vai ali pela primeira vez fica-se com a sensação que o tempo não passou. Para aquelas pessoas, certamente que o tempo tem um andamento diferente. Para que servem os relógios se não há autocarros nem metro para apanhar, se não há horas de ponta a evitar?
Ao mesmo tempo, sentimos que nada de mal poderá acontecer aos que ali passam os seus dias. O sol nasce e poe-se, dia após dia, mas acredito que lá no fundo da serra, as 11 pessoas não o vejam ou o sintam todos os dias. Tal é o nevoeiro cerrado que por vezes se levanta por aquelas paragens, quem não conhecer a zona e passar na estrada apertada no topo do monte, nem se dá conta que ali, alguns metros abaixo, onde acaba o penhasco, há vidas humana.
Quando se vai lá uma, duas, três vezes ficamos atentos às mudanças. Agora ja há um café, os visitantes recebem um cartão com os serviços da "casa", almoços e jantares com especialidades como o cabrito assado, provavelmente dos criados mesmo ali, naquelas pastagens cheias de carqueija. Alguém se lembrou de que o artesanato poderia dar dinheiro e toca a fazer casinhas de xisto, tal e qual as da aldeia. De resto de todas as vezes que lá voltamos saímos com a certeza de que não há no mundo lugar tão pacífico.
Pergunto-me o que acontece àquelas 11 almas quando adoecem e precisam de um médico.
Pergunto-me quantas vezes saem dali e para fazer o que?
Pergunto-me se precisam realmente de sair dali...

Acredito que quando se vive muito tempo num lugar como aquele, não se sente necessidade de ir a mais lado nenhum.
Não posso dizer o que vai na alma daquelas pessoas e porque insistem em ficar ali, mas o olhar de um cão rafeiro que por ali se passeava era de um tristeza infinita....

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