Nesta altura do ano, encontram-se entre nós muitos emigrantes em férias. Em homenagem aos mesmos e aos imigrantes que de outros países vieram trabalhar para Portugal, publica-se o seguinte poema de Manuel Alegre, poeta com raízes em S. Pedro do Sul, que versa o problema da emigração.
Portugal em Paris
Solitário por entre a gente
eu vi o meu país.
Era um perfil de sal e abril.
Era um puro país azul e proletário.
Anónimo passava.
E era Portugal que passava
por entre a gente solitário
nas ruas de Paris.
Vi minha pátria derramada
na Gare de Austerlitz.
Eram cestos e cestos pelo chão.
Pedaços do meu país. Restos. Braços.
Minha pátria sem nada
sem nada despejada nas ruas de Paris.
E o trigo? E o mar?
Foi a terra que não te quis
ou alguém que roubou as flores de abril?
Solitário por entre a gente caminhei
contigo os olhos longe como o trigo e o mar.
Éramos cem duzentos mil?
E caminhávamos.
Braços e mãos para alugar
meu Portugal nas ruas de Paris.
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