sexta-feira, 4 de maio de 2012

DIA DA MÃE

No próximo domingo, dia 6 de Maio, é o Dia da Mãe. Evocando aquele Dia, publico o poema que segue, da autoria de um dos maiores poetas portugueses: Miguel Torga. O mesmo é dedicado a todas as mães, vivas ou falecidas.
Permita-me quem me ler que dedique o poema muito especialmente à minha querida mãe, falecida há pouco mais de 4 meses.

Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!

Miguel Torga, in 'Diário IV'

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