quinta-feira, 23 de outubro de 2008

LAICISMO E LAICIDADE

Há alguns anos, publiquei no "Notícias de Lafões" um artigo, cujo título era "Cristo, o primeiro laico", referindo-me à Sua célebre expressão "A Deus o que é de Deus e a César o que é de César", que afirma claramente a separação entre a Igreja, o Estado e a Política.
Houve católicos que não compreenderam o alcance da expressão. Houve quem afirmasse (imagine-se!!!) que eu estava a chamar Cristo ateu...
Em entrevista concedida ao semanário "Expresso", na sua última edição, o Cardeal D. Saraiva Martins, que já dirigiu a Congregação dos Santos e faz parte do chamado governo do Vaticano, diz exactamente a mesma coisa: "Cristo é o primeiro laico, ao defender que se dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Irão aquelas pessoas apelidar o Cardeal D. Saraiva Martins de ateu? Um ateu no governo do Vaticano, dirigido pelo Papa? Na Igreja e não só, os "mais papistas que o Papa", efectivamente, não ajudam nada, antes pelo contrário, só prejudicam as instituições a que pertencem.
Na mesma entrevista, o Cardeal nascido na Guarda distingue laicismo e laicidade.
Laicidade é a separação da Igreja e do Estado, mas acompanhada de liberdade religiosa.
Laicismo é o afastamento da religião do espaço público, como defendem certos herdeiros do jacobinismo franco-maçónico, influenciado pelo racionalismo e o iluminismo anti-clericais e ateus.
A laicidade e simultaneamente o importante papel atribuido às Igrejas enquanto representantes da sociedade civil são visíveis e acarinhados nos EUA e no Reino Unido, também, em parte, por influência maçónica, mas distinta da francesa. Nos países anglo-saxónicos, a maçonaria maioritária é a chamada regular, à qual só pode pertencer quem acreditar na existência de Deus. Esta maçonaria, historicamente, recebeu influência racionalista e iluminista diferente da de inspiração francesa, que mais que diálogo, sempre procurou a síntese entre a fé e a razão. Aliás, a maioria destes racionalistas eram cristãos, uns católicos, outros protestantes.
Eis a explicação para estas diferenças de atitude nas relações Estado-Igreja/Religião nas nações anglo-saxónicas e em outras nações (ou da parte dos seus governantes), influenciadas pelo jacobinismo deturpador do ideal original liberal e democrático da Revolução Francesa.

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